SEE2SEE COMPANY | trema (¨) mostra de performance | fazer corpo – edição 0
see to see / ver para ver. nessa interação performática, propôs-se um jogo através do ver e do olhar. abordando somente o público masculino, especificamente, o trabalho era essencialmente, observar. fixaram-se os olhares, na tentativa de uma conversa silenciamente ruidosa. não é possível saber se, se fizeram compreender na mesma linguagem. o mais provável, é que não. é ~ provável ~ porque depois percebeu-se que muita gente saiu dali confusa, e entendeu foi nada. a dúvida, a hesitação, o deboche, a ternura, a empatia, a afronta, o incômodo, foram algumas das sensações provocadas ali.
Curadoria: Letícia Maia
Maria Diogo, Nara Rosetto, Priscilla Davanzo, Sarah Gelinski, Tales Frey e Tânia Diniz
Realizado em 18 de novembro de 2023 e em exposição até dia 06 de janeiro, na KUBIKGALLERY
Fotos por Betina Juglair & Lexi
Trema (¨), sinal gráfico utilizado em algumas línguas para marcar um efeito de alteração na pronúncia do som de uma vogal. pode ser compreendido como aquilo que marca a diferença na repetição, processo de vibração que altera, ainda que temporariamente, a ordem estabelecida. A palavra também remete para a ideia de tremor ou tremer, o que faz vibrar, agita, sacode ou perturba os corpos em experiência, um processo que se assimila ao efeito performativo provocado pelo acontecimento de uma performance.
Fazer, desfazer e re-fazer corpo
A edição 0 da mostra de performance trema (¨) – fazer corpo, que se desdobra na presente exposição ocupando os espaços da Kubikgallery nos próximos meses, reúne diferentes abordagens de artistas onde o corpo – com todas as suas características e particularidades, físicas, identitárias e subjetivas – está situado como zona de tensão e campo de disputa político. Ao evocar o enunciado fazer corpo, em diálogo com a noção de performatividade de gênero como contexto que dá contorno a mostra, nos aproximamos da produção de artistas que esculpem suas poéticas a partir de suas próprias existências, borrando fronteiras imaginárias entre arte e vida, manifestando corporeidades e subjetividades múltiplas que não se conformam aos modos hegemônicos de fazer corpo.
Os trabalhos de Maria Diogo, Nara Rosetto, Priscilla Davanzo, Sarah Gelinski, Tales Frey e Tânia Dinis compõem um conjunto heterogêneo, revelando estratégias poéticas singulares, onde o ponto comum é a mobilização da consciência crítica de que o corpo não é um dado inequívoco da natureza, mas uma produção sociopolítica, posicionado ao mesmo tempo como eixo central de disputa das relações de poder e principal meio de resistência. Por meio de provocações poético-políticas que, de diferentes formas, nos convocam a participar de uma experiência compartilhada, tais trabalhos colocam questões que possibilitam problematizar os modelos normativos que regem a construção política do corpo, do gênero e da identidade. Apontando também para os processos de violência, hierarquia e opressão, direcionados aos corpos que desafiam, transgridem ou não correspondem completamente a normatividade dada pelo ideal hegemônico – branco, masculino, classista, cisheteronormativo, colonialista, capacitista, etc.
Historicamente a performance arte tem sido uma importante ferramenta crítica de questionamento dos modelos hegemônicos de fazer corpo, visto que permite operar exercícios experimentais de imaginação performativa e política onde se pode experimentar modos de fazer, desfazer e refazer que mobilizam outros usos e sentidos para o corpo. A mostra trema ( ¨) – fazer corpo, busca dar visibilidade à produção artística contemporânea em performance arte, enfatizando sua dimensão como acontecimento vivo assim como seus desdobramentos materiais e expositivos. Propondo considerar que vestígios, resíduos, objetos, materialidades e documentações de performance, como dispositivos que prolongam e proliferam a potência do acontecimento e que assim como as performances, são capazes de gerar modos singulares de relacionalidade e intersubjetividade com o público.
Letícia Maia