Prática afetiva do grito
Entre setembro e outubro de 2023 participei da 5ª edição da Órbita, residência organizada pela Beatriz Sarmento e Joana Couto, fundadoras do Festival Súbito, no Porto. Era suposto cada integrante orientar uma prática artística ao grupo, e a que propus para os amigos foram atividades de estímulos do cheiro, do toque e da liberação dos músculos faciais, dando uma sequência final ao grito, que é uma extensão do meu trabalho Esg Esc Exp: matéria para compostagem. Os exercícios faciais e de voz são referências que trouxe dos tempos em que fiz teatro, e que eram importantes para preparação do corpo, desenvolvimento das personagens e para projetar a voz ao público.
Assim, direcionei o grupo a fazer massagens em duplas, focando em regiões do corpo que não fossem as costas, mas sim a palma da mão, antebraço, orelha, cabeça e panturrilha, a exemplos. Também trabalhamos a respiração em três tempos diferentes, finalizando com a respiração do fogo, que hiperventila e oxigena o cérebro e ajuda a criar energia e resistência para o corpo. Depois, fizemos sons anasalados, sons da garganta e brincamos com as onomatopéias, o que foi bacana resgatar algo da infância quando imitávamos os sons dos animais, dos veículos, dos eletrônicos, da natureza, e criávamos um universo lúdico e libertador. Com todo esse aquecimento da voz, deu-se sequência gradual ao grito, e ao final estávamos todos gritando com muita energia e qualidade, com a intenção de agradecer pelas atividades realizadas até aquele momento e chamando por mais energia e inspiração para os exercícios que decorreram naquela semana. Acredito que o grito tem um poder fortíssimo de limpeza física e espirtual, e que também pode ser utilizado para recarregar as baterias do corpo e mente, tanto no dia a dia ou para algo mais específico como uma preparação para a criação artística. O vídeo acima é um registro dessa prática e foi projetado na exposição final da residência, que partiu mais de resultados dos processos do que uma finalidade de objetos expositivos propriamente.