sair pelas ruas, com uma roupa fabricada para a performance, que me permita coletar coisas do chão, bancos, e demais locais urbanos e guardá-las comigo. algo que passe pelo registro da cartografia e da memória. todo o meu trajeto é feito de colagens dos passos que dou, de substâncias e das personagens que percorro até chegar a mim, porque não sou eu sem saber que também os outros são os outros, e todos criamos nossos vetores compactados em nossa solitude, guiados pela individualidade, algo propriamente tão meu e tão seu, que a liberdade [não acredito nela] que a autonomia [acredito nela] possa ser meu ponto de partida, minha pulsão de morte e vida, toda vez que a lua me levanta. sempre esquecerei das muitas coisas que compõem um singelo lugar. e captar tais sutilezas podem ajudar a me tornar quase que da mesma matéria daquilo que repousa e penetra na epiderme da cidade.
quero ser o ph em discordância com a natureza do concreto para gerar um caos necessário a cada dia. mas não pense que o meu maior desejo é fazer parte disso ou daquilo, pois já não me sinto pertencente a qualquer lugar ou coisa, faz tempo! não me tirem mais essa sensação deslocada, eu já aprendi sua poesia e não foi fácil acessá-la, porém agora é a que mais me interessa. sou uma colagem de sonhos e frustrações, dores, temperos de gentes, e até da intimidade com aqueles que vivem em outro espaço-tempo, gosto de gente morta e de gente para além de viva, ativa. e também de quem esteve aqui pra contar o que só se passou na sua habilidade de sonhar. acho que as ruas são isso, esse aglomerado de coisas nonsense, que brotam e desaparecem espontaneamente. e sair em caminhada recolhendo o que deixaram para trás, não é me alimentar de restos de história alguma, mas compilar vários recortes de fragmentos de fragmentos de fragmentos. a roupa, precisa ter muitos bolsos, de vários tamanhos, e cada objeto…
ensaio para um trajeto.
se vou realizá-lo? talvez nunca.